Sindicância do TJRN aguarda confirmação pelo Banco do Brasil. Montante desviado já ultrapassa R$ 14 milhões
Fernanda Zauli e Paulo Nascimento, no Diário de Natal
A comissão interna de sindicância que apura o esquema de desvio de recursos do setor de precatórios do Tribunal de Justiça do Rio Grande Norte (TJRN) encontrou mais um suposto “laranja”. O nome da pessoa não foi revelado, mas de acordo com uma fonte do Diário de Natal trata-se de mais uma mulher. As investigações da comissão também revelaram que o valor desviado dos precatórios já ultrapassou a casa dos R$ 14 milhões.
De acordo com a fonte, a comissão interna de sindicância do TJRN aguarda apenas a documentação do Banco do Brasil para confirmar a participação do suposto “laranja” no esquema.O processo que investiga a participação dos magistrados no esquema de desvio de recursos do setor de precatórios do TJRN corre sob segredo de justiça no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A partir de agora qualquer outra pessoa implicada no esquema será incluída no processo do STJ. É o caso da ex-secretária geral do TJRN, Wilza Targino, que foi responsabilizada pela fraude nos relatórios do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN) e da comissão de sindicância do TJRN. Se confirmada a participação do novo “laranja”, essa pessoa também será incluída no processo do STJ.
A presidência do TJRN manteve o silêncio em relação ao afastamento dos desembargadores Rafael Godeiro e Osvaldo Cruz por suposta participação no esquema. A reportagem do Diário de Natal tentou, mais uma vez, falar com o desembargador Rafael Godeiro, mas ele não atendeu às ligações.
Substitutos de Osvaldo Cruz e Rafael Godeiro falam
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Desde 2000 é o titular da 3ª Vara Criminal do Distrito Judiciário da Zona Norte e também é professor de direito penal de uma universidade particular de Natal. Chamado pela presidência do TJ-RN para substituir Rafael Godeiro quando o mesmo entrou de férias, no início deste mês, Assis Brasil terminou surpreendido pela medida cautelar que suspendeu o magistrado. “Recebi a notícia com muita tristeza e pesar. Até que se prove o contrário, tanto Osvaldo como Rafael são dois grandes magistrados e grandes cidadãos”, comentou ele.
O substituto preferiu não comentar sobre as suspeitas de participação dos desembargadores, apontados como integrantes do esquema de desvio de verbas na Divisão de Precatórios do TJ-RN. “Como são meus colegas e não tenho como entrar no mérito da ação, prefiro não comentar nada sobre o caso. Tudo que venho acompanhando é o que sai na imprensa. Nestes dias não tive contato com nenhum deles, até porque eles não possuem ingerência sobre quem assume as vagas”, completou Assis Brasil.
De forma discreta, porém sem deixar de posicionar-se sobre o período de crise pelo qual tem passado o Judiciário potiguar, Arthur Bonifácio comentou a respeito de como é assumir a vaga de um desembargador suspeito de participação em esquemas ilícitos. Integrante do TJ-RN desde 1990, o juiz de 48 anos afirma que apesar do momento difícil o dever de um juiz é assumir a missão que lhe foi dada. “Como juiz tenho que enfrentar a situação, com o revestimento da confiança que o tribunal me prestou. Neste momento, que há uma investigação, como juiz tenho que tomar uma posição de cautela. Trabalhamos cercados de uma ordem jurídica profissional”, declarou Bonifácio.
Para ele, o momento é, acima de tudo, de cuidado com o que se toma de atitude. “Meu trabalho não é julgar o que ainda está para se julgar. Cada órgão o faz, cada um em sua competência. Não me cabe pré-julgar ninguém. Quem tem a competência de julgar o fará e vai dar o seu ao seu dono”, declarou Bonifácio. Segundo ele, irá cuidar apenas da função para qual foi chamado, no lugar do desembargador afastado Osvaldo Cruz. “Estou aqui para fazer o meu melhor: dar satisfação para sociedade e produzir, de uma forma mais eficiente, gerando resultados positivos”, afirmou o juiz.
Transparência
Dentro do “olho do furacão” em que está o TJ-RN após o início dos trabalhos de investigação na Divisão de Precatórios, que acabou atingindo integrantes da Corte de Desembargadores, Arthur Bonifácio acredita que este período serviráprincipalmente para fortalecer o papel do Judiciário frente à população. “É um momento difícil, delicado, mas que acredito que servirá para fortalecer a instituição. O Poder Judiciário vive hoje em um contexto social em que é necessário a transparência e a democratização. Quando encaro um afastamento de um desembargador pelo STJ, na minha visão não é por uma presunção de culpa, mas para deixar o processo mais transparente, para facilitar a defesa dos desembargadores e dar credibilidade à apuração. Os desembargadores tem que dar resposta ao seu trabalho e como seria possível, com o volume de processos, dar resposta à sociedade e ao mesmo tempo se defender?”, explicou.
O papel do TJ-RN, ao abrir a sindicância, também foi importante no caso da investigação do desvio dos precatórios, segundo o juiz. “O Tribunal de Justiça vem cumprindo seu papel. É o último órgão em que a sociedade confia e resguarda. Se ele perde o crédito da sociedade, não serve mais para nada. A condução institucional no sentido da democratização e da transparência é muito importante. Acredito que o TJ sairá fortalecido, com uma imagem melhor do que entrou nesta crise”, finalizou o magistrado.
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A matéria será apreciada primeiramente pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ). Em seguida, caso receba parecer favorável, será enviada para a Comissão de Finanças e Fiscalização (CFF). Após aprovada pelas duas comissões, será levada ao plenário. Se for implantado, o novo modelo de carreira da magistratura beneficiará diretamente os 240 juízes que atuam nas comarcas potiguares.
A reivindicação é antiga. De acordo com a Associação dos Magistrados do RN, a “adequação” da carreira é um pleito dos juízes há 15 anos. No entanto, o momento de tramitação da proposta é conturbado. O projeto será votado em meio à crise de imagem do judiciário, devido ao escândalo do desvio de recursos dos precatórios, inclusive com o afastamento, pelo Superior Tribunal de Justiça, dos desembargadores Osvaldo Cruz e Rafael Godeiro.
Além disso, a reivindicação dos juízes ocorre no momento em que o Estado atravessa uma crise financeira. A governadora suspendeu os aumentos de todas as categorias, que tiveram seus planos de cargos, carreira e salários aprovados em 2010. Segundo Obery, ainda não há perspectiva de pagamento dosbenefícios, devido ao fato de o Rio Grande do Norte estar acima do limite prudencial de gasto com pessoal.
Um veto do Executivo à proposta do TJRN poderia azedar de vez a relação entre o Executivo e o Judiciário, que já está desgastada desde a elaboração do Orçamento Geral do Estado (OGE), no ano passado. Geralmente, o orçamento do Tribunal é estipulado em acordo prévio das instituições. No entanto, Executivo e Judiciário não chegaram a um denominador comum. Coube aos deputados estaduais fazerem a intermediação.
O TJRN pediu ao governo o orçamento de R$ 766,417 milhões, alegando custeio de pessoal e novos investimentos. Mas a governadora Rosalba Ciarlini destinou apenas R$ 689,556 milhões, valor que frustrou as expectativas da presidente do Tribunal, Judite Nunes. O judiciário conseguiu, após longo período de negociações com os deputados estaduais, uma emenda de R$ 30 milhões para suplementar o valor inicial.
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